Ela, Totonha Lobo

Totonha é uma daquelas pessoas que quando você conhece, seus olhos se enchem de sonhos. Ela tem muita história para contar. Tem um saber universal. Alegre, prática, inteligente, culta e dona de um estilo peculiar. Igual Totonha, não existe. A vida, a família, a arte e os projetos de uma mulher estão em seus livros que não foram feitos para ler de uma só vez, têm que ser degustados. No dia 13 de dezembro, ela chega com mais uma obra. Vamos ler!

O lançamento do novo livro será na Di Biasi Livraria e Papelaria, rua Henrique Vasques, 66, a partir das 18h.

Ler livros sempre foi minha fonte de conhecimento. Trabalhar com livros um prazer que se transformou em missão. Indicar leituras, dar livros de presentes, contar histórias de escritores que conheci,  tudo para estimular e formar leitores,  faz parte da minha vida. No meu apartamento tinha uma estante com livros num dos banheiros. Escrever veio por meio de estímulos vários. Um deles como tarefa no teclado do computador   exercitando os movimentos finos, num período de recuperação de uma cirurgia cerebral. Gratidão a Eliane Almeida, fisioterapeuta e amiga que me indicou  essa atividade. Nunca escrevi pensando publicar. Tomar conta do primeiro neto,  outro tipo de terapia, bem ocupacional,  deu enorme resultado  e as  quadrinhas  sobre o seu dia-a-dia, foram minha primeira experiência escrita, totalmente afetiva. As crônicas vieram depois,  também diárias – afinal o ócio foi   generoso para minhas criações memorialistas. Pachá, o marido e leitor foi quem sugeriu que eu procurasse um jornal e à época o O Diário do Vale, o único da cidade me ofereceu uma coluna semanal. Aí pegou. Mas nunca havia escrito pensando em publicar em jornais e muito menos publicar  em livros.
Na Rabeira do Tempo saiu depois de uma visita dos amigos Jiro Takahashi e Virgínia. Ele, a quem tenho admiração pelo editor que sempre foi, leu o jornal da cidade  e me declarou ser uma cronista. Imaginem minha surpresa e alegria ao receber esse comentário de quem  criou as mais interessantes séries e coleções da literatura brasileira juvenil e adulta. Ele quem  abriu espaço para a publicação de  novos escritores brasileiros,   pediu para eu selecionar  algumas crônicas e assim  o primeiro livro foi publicado. Uma cronologia da minha vida que só percebi depois que fiz a seleção e a sequência para o livro: Assis, desde o meu nascimento, minha vida em São Paulo, meu trabalho e,  meu retorno para Cândido Mota, que pouco conhecia. Coloquei alguns contos, que não consegui deixar fora. Já estava tudo escrito em arquivos. Naquelas páginas registrei o  que o mundo me apresentava de encanto, beleza e decepção.  A vida interiorana, sem trabalhar, me dava tempo para escrever.  Escrevi e publiquei por conta própria, mais por incentivo de amigos e leitores do jornal  que opinavam sobre o que eu escrevia nos encontros em açougue,  supermercado,  nos barzinhos e lanchonetes. Não sou uma escritora avaliada literariamente, sou uma pessoa que escreve por que gosta e publica por conta própria até o dia que  puder.  Tento estimular novos leitores e quem sabe surjam escritores  das minhas visitas às  escolas  quando me convidam para palestrar aos alunos  o tema que é meu viver diário: Ler para escrever. Já participei de muitos encontros, incentivei concursos escolares  interessantes e produtivos. Estranho quando alguém responde que não mudaria nada na sua vida.  Dá-me a sensação de que não quer falar das frustrações ou fracassos que todos nós como humanos temos. Eu sempre estou procurando atividades  novas.  Arrependo-me sim de várias coisas da minha vida, até daquelas que nem tentei. Não ter voltado para São Paulo é o maior arrependimento. Agora sei que a hora passou. Não tenho mais tempo e condições para isso. Falta tempo para recomeçar e sobra tempo no calendário da vida. Quanto a ter coragem já recebi um grande reconhecimento  sobre a minha: foi Dona Lia Souza Dias, pessoa queridíssima, no dia que fui presenteá-la com meu segundo livro.  Ela muito feliz indicou  para a sua acompanhante pegar uma caixa em seu quarto e trazê-la até nós. Com a caixa na mesa abriu-a e me disse: – Veja quanto já escrevi. Infelizmente, não tive a coragem de me expor como você teve ao  publicar seus textos. Fechou a caixa e pediu para a acompanhante guardá-la no mesmo lugar.  Escrever é uma atividade que preenche meu tempo. Encaro como trabalho e me sinto operosa como  quando  trabalhava em São Paulo e no período que  tive as colunas semanais  nos jornais O Diário do Vale e depois no  Gente, onde  escrevi por quase 10 anos. Tempo de compromisso com o editor e com o leitor. Sempre que ia viajar deixava os textos em número dos finais de semana que estaria ausente. Muita responsabilidade, nos temas que eu escolhia e me afligia: um passeio, ou um assunto político do momento. Tanto assim que parei de escrever com meu nome  de casada. Passei a usar meu apelido de sempre e o sobrenome do meu pai. A partir daí a responsabilidade era só minha.  Assim eu me colocava escrevendo para os jornais: compromissada com o leitor, com meus princípios, valores, ideias e ideologias. Nunca escrevi texto encomendado, mas já tive texto não publicado por não estar de acordo com a  ideologia do jornal.
Há também momentos de pura inspiração. A novela 22 anos, 6 meses, 17 dias e 9 horas  surgiu numa madrugada vigilante. Um processo que eu desconhecia e me encantei. Tinha  sensação que o teclado escrevia sozinho. Brotaram palavras, frases, histórias… Depois fiquei um pouco mais de ano trabalhando e retrabalhando o texto.  Uma história de amor, amizade e lealdade num tempo que muitos leitores poderão reconhecer como seu.
Sou atenta à vida. Gosto de andar a pé porque  enxergo melhor o mundo. Gosto de gente e de todos os outros reinos da terra; talvez por isso eu seja uma defensora incansável da natureza e da vida. Não podemos deixar esse planeta pior do que o encontramos. Temos que melhorá-lo para todos. Esse é nosso maior compromisso com a nossa descendência. Essa é a minha luta que alardeio na minha escrita diária em rede social.
Em verdade, não sei exatamente qual foi a primeira crônica que escrevi. Lembro de ter escrito e apagado várias, reescrito algumas e finalizado outras tantas. Tenho um arquivo das inacabadas ao qual  volto às vezes e reencontro temas que me pegam de novo e as termino.  É assim meu processo de escrever crônicas. Notícias, observações, um comentário, sentimentos me estimulam para escrevê-las. Pelos meus arquivos foi Anjinho, justamente a primeira que aparece no livro na Rabeira do Tempo. 

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