Um dia de cada vez

Minha avó sempre me falava de limpeza e caráter elevados. O simples fato de você manter sua casa limpa e gostar de estar nesse ambiente harmonioso já era um bom caminho para todo o resto. Ter sempre flores frescas nos vasos e plantas em cachepôs originais, faziam da casa da minha avó, um cenário eternamente vintage. Ela sempre trouxe da infância, as boas acolhidas das matriarcas da família. Era uma sucessão de maneiras discretas e charmosas que eram explanadas na forma de belos paninhos para móveis em crochê, feitos nos fins de tarde e sem ventilador, nas horas quentes e nas horas frias a permanência cada vez maior, ao redor do fogão à lenha. Um tempo de pessoas sem o sofrimento das notícias amargas de hoje em dia. O rádio tinha uma sofisticação musical e as radionovelas, traziam uma atmosfera de sonhos e esperanças renovadas. Não tinha como saber o fim das histórias, tinha que esperar o dia seguinte. Era viver cada momento, deixando para o dia seguinte, apenas a sobra da janta para juntar com o novo almoço. E assim, a humanidade caminhava… Os produtos de higiene e limpeza eram tidos como altamente essenciais. Tinham as lavadeiras que utilizavam o anil, a quaração, o molho de um dia pro outro e a presença amigável do sol era essencial. As panelas eram ariadas com cinza e brilhavam  como nunca.  Tudo que podia era aproveitado. Para o lixo pouco coisa ia. E em volta da mesa, a maioria em orações e súplicas, pediam a Deus que nunca faltasse um membro da família e nem o alimento. Tempos bons de gratidão e cheiros inesquecíveis, fogo sempre aceso e imagens especiais do capim seda sendo orquestrado pelo vento.


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